IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE
DEUS EM ENGENHOCA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL
AULA DO DIA 02/06/2013 – LIÇÃO Nº 09
TÍTULO: “A FAMÍLIA E A SEXUALIDADE”
TEXTO ÁUREO: Gn 1.27
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: I Ts 4.3-5; 5.23; I Pe 1.14-16
PASTOR GERALDO CARNEIRO FILHO
Email: geluew@yahoo.com.br
I - INTRODUÇÃO:
Uma das verdadeiras
tragédias da história do Cristianismo tem sido o divórcio entre a sexualidade e
a espiritualidade. Esse fato é tanto mais lamentável por a Bíblia apresentar um
conceito de tão alta celebração da sexualidade humana. Examinemos algumas
janelas bíblicas que se abrem para esse importante e espiritual assunto.
II - HOMEM E MULHER:
No primeiro capítulo do
livro de Gênesis, temos um comentário breve, e, contudo magnífico, acerca do
significado da sexualidade humana.
A narrativa se abre com a
majestade do ato de Deus que trouxe à vida o universo, mediante o verbo criador.
E esse universo que Ele criou é bom, muito bom.
(Por favor, entendamos
uma coisa de uma vez por todas: o mundo material é muito bom e não deve ser
desprezado).
Os seres humanos são o ápice da criação divina. Com
linguagem simples, porém nobre, a Bíblia nos diz que a criação humana é
separada de todas as outras, pois é feita à imagem de Deus.
Observemos quão intimamente relacionada está a nossa sexualidade à imagem de Deus:
"Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à
imagem de Deus o criou; HOMEM E MULHER OS CRIOU" (Gn 1:27).
Embora possa parecer estranho, nossa sexualidade — masculinidade
e feminilidade - está de alguma forma relacionada à nossa criação à imagem de
Deus. Ela não é apenas uma organização acidental da espécie humana ou apenas
uma forma conveniente de manter a continuidade da da raça humana. Não! Ela está
no coração da nossa verdadeira humanidade. Existimos como homem e mulher em
relacionamento. Nossos impulsos sexuais, nossa capacidade de amar e sermos
amados, estão intimamente relacionados ao fato de termos sido criados à imagem
de Deus. Que alto conceito da sexualidade humana!
Observemos também que a
ênfase dada pela Bíblia ao relacionamento ajuda-nos a ampliar nossa
compreensão da sexualidade humana.
O problema com as casas
de massagem e a literatura pornográfica reside no fato de não enfatizarem suficientemente
a sexualidade. Elas eliminam totalmente o relacionamento e restringem a
sexualidade às limitadas fronteiras dos órgãos genitais, tornando, desta forma,
o sexo corriqueiro.
Como é mais rica e mais plena
a perspectiva bíblica!
Aquela conversa enquanto
se toma um cafezinho, discutir-se um livro maravilhoso, observar juntos um por-de-sol
— isso é sexualidade no seu melhor sentido, pois homem e mulher estão em um relacionamento
íntimo. Não há dúvida que o sexo genital faz parte do total desse quadro, mas
a sexualidade humana é uma realidade muito maior do que o simples ato sexual.
III - NUS E NÃO ENVERGONHADOS:
Deus falou e toda a
criação passou a existir, com exceção dos seres humanos. Para criar Adão, Ele
tomou o pó da terra e assoprou vida em suas narinas (Gn 2:7). E essa união do
pó da terra com o fôlego divino dá-nos uma das melhores descrições da natureza
humana.
Deus não criou Eva por
meio de uma simples palavra, como se ela fosse parte de uma realidade não humana;
tampouco soprou no pó como se ela fosse uma criação não relacionada ao homem.
Deus usou a costela de
Adão para sublinhar sua interdependência — "osso dos meus ossos e carne da
minha carne", conforme Adão expressou.
Os dois, entretecidos,
interdependentes, entrelaçados, sem nenhuma rivalidade feroz, sem nenhuma
superioridade hierárquica de um sobre o outro, sem nenhuma autonomia
independente. Que lindo quadro!
A seguir, é-nos dada a
confissão de um pacto de fidelidade que estabelece o padrão para o casamento
amadurecido:
"Por isso deixa o
homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne"
(Gn 2:24).
Esta é realmente uma declaração
extraordinária.
Dada a intensidade da
cultura patriarcal, é genuinamente fenomenal o fato de um autor bíblico falar
em o homem "deixar" e "unir-se".
A seguir, a Bíblia
descreve sua união como sendo uma realidade de "uma só carne", uma
frase à qual Jesus empresta profundidade e riqueza em Seu ensinamento.
Por fim, a cena chega ao
final com o mais revigorante comentário de todos:
"Ora, um e outro, o
homem e sua mulher, estavam nus, e não se envergonhavam" (Gn 2:25).
Temos aqui um quadro maravilhoso
de um par cuja sexualidade estava integrada no todo de suas vidas.
Não havia vergonha porque
havia inteireza. Havia uma unidade orgânica em seu íntimo, e com o restante da
criação. Nus e não envergonhados — uma cena magnífica.
Podemos perceber, então, que
o erotismo não contaminado pela vergonha existia antes da queda. A queda não
criou o AMOR EROS (***); apenas o perverteu.
(***) O
AMOR “EROS” - Este tipo de amor é aplicado à relação entre um homem e uma mulher, na
perspectiva conjugal. O amor EROS é o amor físico e sensual, necessário
para as relações do casamento.
Na história da criação
vemos o homem e a mulher atraídos um para o outro, nus e não envergonhados.
Sabem que sua masculinidade e feminilidade são obra das mãos de Deus, assim
como o afeto apaixonado de um pelo outro. Também suas diferenças os unem: são
homem e mulher, mas são também uma só carne. Os dois num relacionamento, em
amor! Por que deveria estar presente a vergonha? Nossa sexualidade é criação
de Deus.
IV - CELEBRAÇÃO DO AMOR:
Se o Gênesis afirma nossa
sexualidade, o livro de Cantares de Salomão a celebra.
O teólogo Karl Barth
disse que o livro de Cantares é um comentário ampliado de Gênesis 2:25:
"Ora, um e outro, o
homem e sua mulher, estavam nus, e não se envergonhavam."
E não deixa de ser!
Nada mais há em nossa
Bíblia que se compare à suntuosa celebração da sexualidade humana que
encontramos ali. O simples fato de encontrar-se ela na Escritura é um elegante
testemunho da recusa hebraica em trinchar a vida, separando-a em coisas sacras
e coisas seculares.
Cantares de Salomão nos
oferece uma linda visão de como o amor eros
deve ser!
Vemos ali sensualidade
sem licenciosidade, paixão sem promiscuidade, amor sem lascívia.
O livro apresenta a
sexualidade humana de forma bela, santa e pura. Encontramos ali o ideal de Deus
para a sexualidade humana.
O livro de Cantares de Salomão também apresenta
alguns princípios para que os casais sejam felizes em sua sexualidade. Vejamos
alguns deles:
(1) – A INTENSIDADE DO
AMOR – Ct 2.5 - O poeta não mede esforços, empilhando superlativo sobre
superlativo, para mostrar a extravagância do amor do casal.
Em outro lugar, o poeta
descreve a mulher no leito, anelando por seu amado. Ela levanta-se no meio da
noite e percorre as ruas desertas, em busca de "o amado da minha
alma" (Ct 3:2). Chega mesmo a importunar os guardas, implorando-lhes que
lhe digam onde se encontra o seu amado.
Finalmente, "encontrei
logo o amado da minha alma; agarrei-me a ele e não o deixei ir embora" (Ct
3:4), uma linda abertura para a intensidade do amor.
Verdadeiramente, temos
aqui o amor eros livre de vergonha.
(2) – O CONTROLE DO AMOR –
Cantares de Salomão não nos apresenta nenhuma rude orgia, nem apalpação ou
manipulação desajeitadas e grosseiras. O amor é elevado demais, o sexo é
profundo demais para esse tipo de malícia e lascívia.
No capítulo 8, a sulamita
recorda-se do que seus irmãos diziam sobre ela quando era criança:
"Temos uma
irmãzinha, que ainda não tem seios." (Isto é, ainda não tem maturidade). Que
faremos a esta nossa irmã, no dia em que for pedida? Se ela for um muro,
edificaremos sobre ela uma torre de prata; se for uma porta, cercá-la-emos com
tábuas de cedro" (Ct 8:8-9).
Em suma, os irmãos
perguntam protetoramente:
- "Era nossa irmã um
muro? Manteve-se pura? Manteve sob controle suas paixões eróticas,
preservando-se para aquele que seria seu permanente e leal amante? Ou foi uma
porta? Foi violada por amantes temporários?".
Plenamente amadurecida, a
mulher alegremente anuncia ao amado:
"Eu sou um muro, e
os meus seios como as suas torres" - Ct 8:10.
Ou seja, ela não se havia
deixado dominar por paixões descontroladas.
O homem, do mesmo modo,
conhecia as lições do controle.
No capítulo 6 ele recorda
as numerosas oportunidades que poderia ter tido para demonstrar sua capacidade
sexual.
Em linguagem que talvez
seja, de certa forma, uma hipérbole hebraica, ele menciona sessenta rainhas,
oitenta concubinas, e "virgens sem número" que poderia ter possuído,
e, contudo, disse não a todas elas, pois "não há mulher igual a você"
(Ct 6:8, 9 — A Bíblia Viva).
O amor em Cantares de
Salomão é moderado também por recusar-se a ser precipitado. Isso é captado
muito bem pelo coro que se faz presente em todo o decorrer da narrativa:
"Conjuro-vos, ó
filhas de Jerusalém... que não acordeis nem desperteis o amor, até que este o
queira" (Ct 3:5; 5:8; 8:4).
E, se era importante para
o antigo Israel ouvir esse conselho em favor da paciência e do controle, quão mais
importante para a nossa sociedade, que toma até mesmo crianças e as transformam
em símbolos sexuais!
Que linda combinação —
essa intensidade e controle!
A paixão erótica é
celebrada, mas tem ela um caráter exclusivista.
Nenhuma passagem ilustra
melhor esse ponto do que a da cena das bodas:
O homem descreve a futura
esposa como "jardim fechado, fonte selada" (Ct 4:12).
Ela disse não ao sexo
esporádico; manteve fechado o seu jardim.
Mas então chegamos à
noite de núpcias, quando a mulher exclama:
"Levanta-te, vento
norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim, para que se derramem os
seus aromas. Ah! venha o meu amado para o seu jardim, e coma os seus frutos
excelentes!" (Ct 4:16).
Estão presentes aí a
intensidade do amor e o controle do amor.
(3) – A MUTUALIDADE DO
AMOR - Em parte alguma desse livro encontra-se a história tediosa do homem
agindo e a mulher recebendo a ação — é bem o oposto! Ambos estão intensamente
envolvidos; ambos são iniciadores; ambos são recipientes. É como se a maldição
do domínio do homem que resultou da queda tivesse sido sobrepujada pela graça
de Deus.
Até mesmo a estrutura
literária do livro enfatiza o fato de o amor ser recíproco: O homem fala; a
mulher fala; o coro canta o refrão. Existe diálogo franco. A mulher é aberta e
desinibida ao expressar seu amor e sua paixão:
"O meu amado é para
mim um saquitel de mirra, posto entre os meus seios", "O meu amado é
semelhante ao gamo, ou ao filho da gazela" (Ct 1:13; 2:9).
Gênesis nos fala apenas
da atração que Adão sentiu por Eva, mas a ênfase em Cantares de Salomão é dada
à atração mútua dos dois cônjuges. Ambos estão constantemente dando e recebendo
no ato de amor, qual seja: a mutualidade do amor.
(4) – A PERMANÊNCIA DO
AMOR - Nada de promiscuidade aqui, nada de fuga quando as contas e o tédio
surgem. No final de Cantares, a mulher brada:
“Põe-me como selo sobre o
teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e
duro como a sepultura o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, são veementes
labaredas. As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios afogá-lo;
ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo
desprezado” (Ct 8:6-7).
O amor deles é contínuo e
forte. Ele transcende o calor e a frieza das flutuações da paixão erótica. É
tão forte quanto a morte; não pode ser comprado a preço algum.
De fato, essas palavras
de fidelidade e permanência nos trazem à mente o hino do amor do apóstolo
Paulo, registrado em l Coríntios 13 — "O amor jamais acaba".
Como é significativa essa
palavra que nos fala da permanência do amor!
(5) – DEDICAÇÃO DE TEMPO – Ct 1.7-8 - Para que os
casais experimentem alegria nessa área da vida é preciso, como recomenda
Salomão, dedicar tempo um ao outro.
O texto descreve o desejo ardente de a jovem
encontrar-se com seu amado. Não podia esperar até tarde. Desejava saber onde
ele se encontrava para ir e estar com ele.
Muitos estão frustrados na relação conjugal porque
não dedicam tempo ao amor romântico. A Sulamita ensina àqueles que desejam
viver em um casamento de sucesso que é preciso desejar ardentemente estar com o
outro. É na dedicação de tempo que o casamento é fortalecido e cria-se a
intimidade tão importante para o casal.
(6) – ELOGIO – Ct 1.9; 2.9; 4.1-5 – Quando lemos
Cantares de Salomão, algumas comparações podem soar como sendo bem estranhas
para nós que vivemos numa cidade grande ou em numa sociedade ocidental.
Temos sempre que lembrar
de dois princípios fundamentais:
(A) - A maioria das comparações são de fundo emocional; e
(B) – São figuras
enaltecedoras para aquela época.
A maneira mais adequada,
para aquela época, de elogiar a mulher que amava, era recorrer a essas figuras
que lhe causavam admiração. Com isto, Salomão lembra que fazer elogio ao
cônjuge faz bem para a relação e enriquece a sexualidade conjugal.
(7) – ROMANTISMO – Ct 5.9
– É essencial para um casal ser feliz no casamento.
A grande reclamação das
mulheres é que os homens são românticos até à data do casamento. Depois, sofrem
de amnésia de palavras e atos românticos.
A mulher carece de
palavras e de atos românticos por parte do esposo. Para tanto, os maridos devem
aprender a ser românticos para que mantenham a chama do amor.
(8) – CUIDADO – Ct 2.5 –
Esta expressão deseja ensinar aos casais que para manterem o casamento viçoso é
preciso estar sempre eliminando aquelas pequenas coisas que prejudicam a
relação. São aquelas pequenas ervas daninhas que tiram a força do casamento, e
com o tempo podem matar de vez o amor conjugal.
(9) – TOQUES – Ct 1.1;
8.3 – Várias vezes Cantares de Salomão descreve os toques físicos como
ingrediente importante para a relação conjugal. Daí a importância do contato
físico que deve haver num casamento. Andar de mãos dadas, abraços e beijos são
importantes para um casal cultivar um casamento feliz.
(10) – COMPROMISSO PÚBLICO
E PRIVACIDADE – Ct 8.1-3 – No relacionamento conjugal, é preciso haver um
equilíbrio entre o compromisso público e a privacidade.
O amor puro entre o casal
era conhecido publicamente, mas a troca de carícias era algo que se dava na
intimidade conjugal.
Um casal que teme a Deus
deve aprender estas duas verdades:
(A) – Deve demonstrar
para a sociedade que existe amor genuíno, amor aprovado por Deus; mas
(B) – Deve resguardar
para a intimidade da vida a dois as demonstrações mais intimas desse amor. Isto
se chama pudor.
V - CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Amor e sexo, quando
vividos no contexto de uma relação conjugal aprovada pelos princípios bíblicos,
ambos são divinos, belos, puros, santos e proporcionam prazer tanto ao homem
como à mulher (Ct 8.7).
Não há pecado nenhum nesse tipo de relação. Por ser
tão puro, belo, santo e prazeroso, devemos estudar mais ainda os livros
poéticos e aplicá-los à vida conjugal e ensinar aos casais e futuros casais que
não será preciso fugir dos parâmetros traçados por Deus para experimentarem
prazer nessa área tão importante da vida humana.
"Limitar
a sexualidade à função biológica da reprodução, considerando essa função mais
importante que a relação entre os cônjuges, é esvaziá-lo de seu sentido
pessoal; é colocar o casal humano no mesmo nível dos animais" - C. René
Padilla
FONTES DE
CONSULTA:
Dinheiro, Sexo e
Poder - Rochard J. Foster - Editora Mundo Cristão
A Família na Bíblia - Ministério Oikos - Gilson
Bifano
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