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15 de jul. de 2010

"OS PROFETAS HEBREUS ENTRAVAM EM TRANSE?" - 15/07/2010

A postagem abaixo é feita em virtude de sinceros questionamentos dos servos de Deus, quando da ministração da Lição de nº 02 - "A NATUREZA DA ATIVIDADE PROFÉTICA -, que resumimos na seguinte pergunta:

OS PROFETAS HEBREUS ENTRAVAM EM TRANSE?

Respeitando outros entendimentos, dizemos que "não"! Os profetas hebreus não entravam em transe. Para isso, transcrevemos abaixo os motivos pelos quais adotamos este entendimento e diante dos quais nos curvamos.

TRANSE


I - AS PALAVRAS:

Há três palavras hebraicas envolvidas e uma grega, a saber:

1) NAPHAL = CAIR EM TRANSE - Aparece com este sentido somente em Nm 24:4, 16. Nas demais vezes, significa apenas CAIR.

2) TARDEMAH = SONO PROFUNDO - Uma palavra hebraica que ocorre por sete vezes (Gn 2:21; 15:12; I Sm 26:12; Jó 4:13; 33:15; Pv 19:15 e Is 29:10).

3) RADAM = TRANSE - Um termo hebraico que ocorre por três vezes com esse significado (Sl 76:6; Dn 8:18; 10:9).

4) ÉKSTASIS = FORA DO NORMAL; DESLOCAMENTO; CONFUSÃO MENTAL - Essa palavra grega é usada por sete vezes (Mc 5:42; 16:8; Lc 5:26; At 3:10; 10:10; 11:5; 22:17)


"At 10:10 - Enquanto estava sendo preparado algo para Pedro comer, sobreveio-lhe um êxtase (At 11:5; 22:17), e teve uma visão. É possível que três fatores tenham governado a visão. O fato de Pedro estar orando indica que estava em condições para receber uma mensagem divina; Lucas frequentemente enfatiza que Deus fala para as pessoas enquanto estão orando (At 13:2; Lc 3:21-22; 9:29). A fome de Pedro também pode ter ajudado a dar forma à natureza da sua visão, e tem sido sugerido que, se havia um toldo sobre o eirado da casa para abrigar as pessoas do sol, este fato pode teer ajudado a criar na mente de Pedro a imagem de um grande lençol que estava sendo baixado do céu pelas quatro pontas".

"At 10:10 - Enquanto permanecia no terraço esperando que lhe preparassem o alimento, sobreveio a Pedro um êxtase. Este, porém, não significa um êxtase no moderno sentido da palavra, não implica também um estado hipnótico. Significa apenas que sua mente estava se desligando de qualquer coisa acerca da qual estivesse pensado à medida que ele sentia que algo importante estava para acontecer".


II - DEFINIÇÃO:

Um transe é um estado alterado da consciência, mediante o qual o indivíduo, por assim dizer, é transportado para fora de si mesmo. Nessa condição de arrebatamento dos sentidos, embora pareça desperto, o indivíduo está desligado de todos os objetos que o circundam, de todos os estímulos. Os estímulos externos evidentes passam inteiramente despercebidos, visto que a pessoa fica total e obcessivamente fixada sobre coisas invisíveis, sejam elas de natureza divina, alucinatórias ou inconscientes. Em tal condição a pessoa pode pensar que está percebendo, com os seus sentidos naturais (principalmente com a visão e com a audição), realidades que lhe estejam sendo mostradas por Deus ou por outras forças sobrenaturais. Os transes religiosos, ou assinalados como fortemente emocionais, são chamados ÊXTASE. Os êxtases são alguns arrebatamentos de avasssaladora alegria. Em suas formas externas, o transe assemelha-se ao estado de coma.


III - USOS BÍBLICOS:

A forma extrema de transe, que poderíamos entender como coma, aparece naquelas passagens onde é empregada a palavra hebraica TARDEMAH. É interessante observar que, em todos esses casos, há alguma manifesta intervenção de Deus. Por exemplo: Gn 2:21 e 15:12-13.

Uma forma mais suave de transe é expressa mediante a palavra hebraica RADAM. Isso pode ser visto, por exemplo, em Dn 8:18; 10:9 e Sl 76:6.

No caso do profeta Balaão, por duas vezes é usada a palavra hebraica NAPHAL - Nm 24:4, 16. A idéia transparece nas palavras reiteradas "prostrar-se, porém de olhos abertos".

No Novo Testamento, o uso da idéia de transe é a mesma que nossa versão portuguesa exprime através da palavra ÊXTASE, correspondente exato ao termo grego original.

ÊXTASE = No grego, significa literalmente ESTAR FORA DE SI MESMO. Essa palavra é usada para indicar alguma emoção dominante ou alguma exaltação mental, como um êxtase de alegria. No estado de êxtase o auto-controle e a auto-consciência acham-se num ponto mínimo.

Ante tais significados, vejamos alguns pontos para nossa meditação:

Muito é dito acerca de algumas passagens em I Samuel.

Um escritor atual fala de "numerosas referências em I Samuel a grupos de profetas que, dançando e cantando com o acompanhamento de instrumentos musicais, entravam em frenezi, e, a seguir, em transe". Na verdade, há pouquíssimas passagens em I Samuel para justificar essa afirmação.

A primeira delas está em I Sm 10:5-6.

O cumprimento desta predição é descrita em I Sm 10:10-11.

Dizer que essa passagem descreve um grupo de profetas cantando desenfreadamente, dançando e/ou entrando em transe é ir além do texto. Tudo o que se diz é que eles desceram a colina numa procissão, profetizando, precedidos por instrumentos musicais.

A única circunstância anormal é o fato de que Saul se juntou a eles. Isso será discutido abaixo.

O trabalho de um profeta é geralmente apresentado como uma atividade individual. Nessa época Samuel era o único indivíduo descrito como executando a verdadeira função profética de receber mensagens de Deus e transmiti-las. Seria, porém, mais natural que outros indivíduos pudessem se juntar para segui-lo e divulgar a mensagem que ele apresentava.

Nesse período de opressão filistéia, seria particularmente natural que essas atividades em parte religiosa e em parte nacionalista, se desenvolvessem. De maneira coloquial, o termo grupo de profetas pode ser aplicado a esses grupos. Dizer que esses homens evidenciavam condição psicológica anormal é ir além do texto. Mesmo se eles estivessesm se comportando assim, isso não provaria nada quanto à atitude de Samuel e de muitos outros profetas individuais.

Outra passagem citada nesse aspecto é I Sm 19:18-24.

O que se diz sobre os profetas é que os mensageiros de Saul "viram um grupo de profetas profetizando, onde estava Samuel, que lhes presidia".

A tradição judaica vê nesse registro um grupo de homens estudando sob a direção de Samuel, como o grande professor profético. Se essa era a situação, ou se os profetas estavam simplesmente louvando a Deus de várias formas, não há nada nessa declaração que sugira que eles estavam engajados em atividades emocionais ou extáticas. A base para se chegar a essas conclusões está fundamentada no que foi feito pelos três grupos de mensageiros que Saul enviou e, mais particularmente, no que foi feito pelo próprio Saul.

O verso 20 diz que os três grupos de mensageiros de Saul ao virem um grupo profetizando, o Espírito de Deus veio sobre eles e também profetizaram. Deve-se notar, porém, que não há uma evidência clara de algo psicologicamente estranho ou extático.

Esses mensageiros podem muito bem ter sido homens que criam no Deus de Israel e perceberam que Saul estava saindo dos princípios de justiça que Deus ordenara através do profeta Samuel, que havia ungido Saul como rei. Quando eles se colocaram na presença de Samuel e seus associados, e os viram louvando a Deus, eles podem ter se sentido impelidos a demonstrar sua unidade com os seguidores do Senhor.

Não há prova de que qualquer um desses mensageiros tenha entrado em transe. O que é dito sobre eles não prova necessariamente qualquer característica extática dos seguidores de Samuel.

O único argumento forte dessas passagens que pode ser extraído para apoiar a idéia de que o êxtase era característica dos profetas, se relaciona exclusivamente ao que é dito sobre Saul.

A primeira passagem (Capítulo 10) relata que Samuel disse a Saul que, quando ele encontrasse o grupo de profetas, o Espírito do Senhor viria sobre ele, eles se juntariam e Saul profetizaria. E assim aconteceu. Isso era tão contrário à impressão geral do povo a respeito de Saul que ele disseram: "Está Saul também entre os profetas?".

O segundo caso é diferente.

Quando Saul veio à casa de Samuel para ver o que havia acontecido aos seus mensageiros, ficou tão fascinado com o entusiasmo que também removeu suas vestimentas e se juntou a eles nas canções de louvor. Ficou lá por muitas horas e finalmente adormeceu de exaustão, esquecendo, por um momento, seu ódio contra Davi, dando oportunidade para que este escapasse.

Embora a descrição das ações de Saul não dêem a impressão de um estado mental anormal, deve-se observar que não são os profetas, mas Saul, que está envolvido nessa descrição.

Voltando-se contra Deus, que o havia colocado no trono, Saul estivera muito emotivo antes, e estava agora numa condição neurótica, movendo-se rapidadamente de um extremo de emoção para outro. Mudanças rápidas de emoção, ou estados mentais altamente extáticos eram inerentes a Saul, mas isso não é prova de que eles caracterizavam o movimento profético.

Duas outras passagens em I Sm e duas em II Reis podem ser mencionadas, embora com menos razão do que no caso das duas passagens de I Samuel já discutidas.

A primeira está em I Sm 18:8-11. Saul encontrou, por vezes, alívio para seus nervos hipersensíveis ouvindo Davi tocar harpa. Quando a população louvou a proeza de Davi como guerreiro, Saul se encheu de ciúme e acrescentou isso ao seu nervosismo. Um dia, um espírito maligno veio sobre Saul (versos 10-11).

Não há nada de especial sobre a irritação de Saul e suas ações inconstantes. O único problema na passagem é o uso da palavra PROFETIZAR (KJV e ARC), em lugar de ser traduzida como CRISE DE RAIVA (ARA), em relação a Saul. Isso dificilmente pode ser tomado como lançando luz sobre as características dos verdadeiros profetas de Deus.

Os que descrevem o suposto caráter extático dos pfoetas hebreus citam o fato de que, em uma ocasião, Eliseu exigiu um tangedor antes de declarar a vontade de Deus (II Rs 3:15). Isso tem sido citado como evidência de que um profeta hebreu exigia o incentivo da música para produzir um estado extático e capacitá-lo para profetizar. O incidente, na verdade, é isolado e, além disso pode ser explicado de modo muito mais racional. O contexto sugere que Eliseu ficou tão enjojado quando lhe pediram para ajudar o filho do perverso rei Acabe, que foi difícil para ele compor suas idéias. A música ajudou Eliseu a apaziguar seu espírito de modo que ele pudesse escutar a voz tranquila do Senhor e superar sua antipatia.

É feita, por vezes, referência a uma firmação em II Rs 9:1-10, em que Eliseu envia um dos filhos dos profetas para derramar óleo sobre a cabeça de Jeú e assim dar início a sua revolta contra os sucessores de Acabe.

O representante de Eliseu pediu para falar particularmente com Jeú e foi com ele até à câmara interior. Lá, derramou óleo sobre a cabeça de Jeú, declarando que Deus o havia ungido rei sobre Israel, e correu então para fora da casa. Os companheiros de Jeú disseram a ele: "Por que veio a ti este louco?".

O uso da palavra LOUCO em referência ao representante do profeta Eliseu, foi considerado por alguns como prova de que os profetas hebreus se engajavam em êxtase orgiástico.

Sob essas circunstâncias, porém, seria muito natural para os observadores falar sobre o mensageiro que conversou com Jeú e correu para fora da casa, e não necessariamente discutir a natureza real dos profetas.

É muito comum os porta-vozes de Deus serem considerados "LOUCOS". Até mesmo o apóstolo Paulo foi chamado de "louco", numa determinada ocasião (At 26:24-25).

São poucas as referências aos profetas que poderiam dar a mais livre impressão de que se engajavam em atividades orgiásticas ou entravam em transes. Quando um dos escritores críticos mais confiáveis faz a declaração infundada supracitado sobre as atividades dos profetas em I Samuel, não é estranho que outros críticos façam outras afirmações dogmáticas sobre o suposto êxtase dos profetas, indo além de qualquer evidência extraída do registro bíblico.

A única evidência de alguma importância que pode ser tirada dos próprios livros proféticos para apoiar a idéia de um estado psicológico anormal dos profetas é tomada do livro de Ezequiel. Esse livro descreve uma quantidade de atos peculiares.

Numa situação diferente daquela das nações ocidentais moderna, Ezequiel usou métodos peculiares para chamar a atenção. Eles, porém, não são evidência de que o profeta estava num estado mental distorcido.

Particularmente, as reivindicações sobre o suposto caráter extático das atividades de Ezequiel estão baseadas em Ez do capítulo 8 ao capítulo 11. Lá se diz que Ezequiel foi transportado pelo deserto até Jerusalém numa visão, e viu eventos estranhos, que relatou quando trazido de volta à Caldéia, numa visão.

Não pode ser negado que o profeta, enquanto teve essa visão, estava numa situação mental anormal. Que era extática, porém, é altamente questionável e é improvável que fosse característico dos profetas hebreus em geral.


IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Essa seção incluiu um exame superficial das várias explicações não anti-sobrenaturalistas dadas às atividades dos profetas. Essas explicações se contradizem com frequencia.

Visto que a maior parte dos escritores que sustentam essas opiniões sentem-se livres para aceitar como genuínas, ou para descartar como espúrias qualquer parte da Bíblia que parece se ajustar a suas teorias, suas conclusões não se apóiam em terreno sólido.

Mesmo onde, como no argumento sobre o suposto êxtase dos profetas hebreus, as conclusões são ditas serem baseadas em dados bíblicos, uma análise dos dados prova que essas conclusões são infundadas.

Se uma pessoa acredita num Deus pessoal, não há dificuldade para aceitar a reinvidicação bíblica de que Ele falou aos profetas (que estavam totalmente conscientes) e deu-lhes mensagens para serem transmitidas. Se uma pessoa rejeita, a priori, esta possibilidade, não há fim para a variedade de explicações possíveis que a criatividade humana possa inventar, mas para as quais não há base sólida.




Fontes de Consulta:

Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã - Merril C. Tenney - Editora Cultura Cristã



Atos Introdução e Comentário - I. Howard Marshall - Editora Mundo Cristão



O Livro de Atos - Stanley M. Horton - Editora Vida



Encinclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia - R. N. Champlin e J. M. Bentes - Editora e Distribuidora Candeia